Hexagrama Kun, A Terra, O Receptivo - iniciando o I Ching do Caminho do Céu



O FIO DA MEADA

O I Ching do Caminho do Céu

1997

Janine Milward




K’un, O Receptivo, O Vazio, 
A Mãe, A Terra, O Devocional


"O Caminho é o Vazio" (1)

Entra em cena, K’un, A Terra, A Mãe, O Vazio, A Não-Luz, A Obscuridade, A Devoção, O Receptivo, O Abranger, A Abnegação, A Humildade, A Paz, A Pureza, A Retidão, A Bondade, A Perseverança, A Docilidade, O Povo, O Reino, O Coletivo, As Massas.

K’un, A Terra, encontra-se consigo mesma formando o Hexagrama K’un, O Receptivo, inaugurando os 64 Encontros de Imagens ou 64 Hexagramas do I Ching do Caminho do Céu – do Céu Anterior, do Mundo do Não-Manifestado.

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___ ___ K’un, A Terra, Trigrama Visitante
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___ ___ K’un, A Terra, Trigrama Primordial
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K’un, A Terra, é a própria significação do Trigrama da Terra.

O Trigrama da Terra, ou Trigrama Primordial, ou Trigrama Inferior, ou Trigrama Interno, é aquele que não apenas dá sustentação ao hexagrama em si – por representar a própria Terra, a base, a estrutura, como também quase sempre nos traz a idéia de algo que se encontra velado, ainda não revelado; coberto, ainda não descoberto.

Diferente do Trigrama do Céu que – por representar o próprio Céu – é aquele que repousa sobre a base, a estrutura do hexagrama em si, como também nos traz, quase sempre, a idéia de algo que se encontra revelado e não-velado, descoberto e não-coberto.

Sendo assim, em K’un, O Receptivo, Terra sobre Terra, existem essas duas qualidades de Trigramas a serem vivenciadas pela Abnegação, pela Humildade, pela Receptividade e Abrangência de K’un, A Terra.

As Virtudes de K’un, A Terra, são as qualidades essenciais do Homem Sagrado. E essas qualidades devem ser vivenciadas tanto dentro dos preceitos da Terra como do Céu.

Na Terra, as Virtudes de K’un, A Terra, levam o Homem Sagrado à compreensão sobre a consagração de seu corpo físico, elevando-o a altos níveis de espiritualidade a ponto de torná-lo um Corpo de Luz - que é o processo de mutação de toda a matéria existente no universo - e libertá-lo da Roda da Vida.

Luz é matéria e assim sendo, é dentro da Terra, da matéria, da encarnação real e vivenciada, que o Homem Sagrado atinge sua Iluminação e sua Liberação, sua Imortalidade, sua Luz própria – sua Consciência infinita e sua Vida infinita!

No Céu, as Virtudes de K’un, A Terra, levam o Homem Sagrado a realizar sua obra, seu nome, sua vida e retirar-se... ou seja, praticar a Virtude da Humildade.


O Julgamento


No I Ching do Caminho do Céu, K’un, O Vazio, A Terra, vai deixando que a Luz do sublime Tao, emanada por Ch’ien, O Céu, O Criativo, a preencha por inteiro – e dessa forma, todos os Filhos e Filhas vão surgindo, perfazendo todos os degraus desse Caminho.

Quando finalmente K’un, A Terra, alcança Ch’ien, O Céu, dá-se a transmutação total do Vazio da Não-Luz em Luz Plena: a Terra retira seu corpo....para tornar-se um Corpo de Luz!
"Concluir o nome, terminar a obra,
retirar o corpo – este é o Caminho do Céu." (2)

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K’un, A Terra Ch’ien, O Céu


Para tanto, para realizar tão grande tarefa, o I Ching nos diz no Julgamento:

"O Receptivo traz sublime sucesso, propiciado através da perseverança de uma égua."

Em Ch’ien, O Céu, O Criativo, menciona-se o dragão. O dragão voa nos céus.

Em K’un, A Terra, O Receptivo, menciona-se a égua. A égua vive na terra. Na realidade, a vaca é o animal de K’un, A Terra, em função de sua mansidão, de sua docilidade. No entanto, quando se trata do Hexagrama K’un, O Receptivo, a Terra repetida no Trigrama da Terra e no Trigrama do Céu nos traz a idéia de vastíssima extensão de terra – e nesse caso, é a égua, animal terrestre e rápido, que é mencionada no Julgamento.

Outras Virtudes também pertencem a K’un, A Terra, como a não-ação, o não-desejo, o desapego, a simplicidade....

"O Caminho é uma constante não ação
Que nada deixa por realizar
Se reis e príncipes pudessem resguardai-lo
Os dez mil seres iriam se transformar por si.
Porém, se nada transformação despertassem desejos
Eu iria estabilizá-los através da simplicidade do sem-nome
A simplicidade do sem-nome também se inicia no não-desejo.
Não-desejo para se tornar quieto
E o céu e a terra, por si, estarão em retidão" (3)

No I Ching, se diz no Julgamento: "Se o homem superior empreender algo e tentar dirigir, ele se desviará"

Assim, a não-ação e o não-desejo são essenciais de serem compreendidos. A não-ação não significa nada fazer. Significa fazer o que e quando deve ser feito de acordo com a naturalidade do momento. É a "Misteriosa Virtude". E fundamentalmente, fazer, realizar, sem se apegar, sem querer para si – esse é o não-desejo

"O que gera e cria,
gera mas sem se apossar
age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se "Misteriosa Virtude" (4)

O I Ching continua, no Julgamento: "porém, se ele seguir, encontrará orientação."

Dentro da não-ação, de acordo com a naturalidade do momento e das circunstâncias, algo deve ser realizado.... Primeiramente, a ação, a realização, são Virtudes de Ch’ien, O Céu, O Criativo. À Terra, K’un, cabe ser conduzida, através da Docilidade e da Abnegação que lhes são essenciais. Dessa forma, a orientação encontrada virá através do seguir o silêncio, a calma, a paz interior, a interiorização, a meditação, o sentar-se no silêncio.

"É favorável encontrar amigos a oeste e ao sul, evitar amigos a leste e ao norte".

Nessa parte do Julgamento, nós somos remetidos ao Mapa do Mundo da Manifestação ou Céu Posterior onde encontramos Li, O Fogo, O Sol, O Espírito, ocupando o lugar do sul, do verão, do meio-dia, do sol a pino. No oeste, encontramos Tui, O Lago, A Alegria, O Espelho, o outono, o cair da tarde, o por do sol, a retirada....

No sul e no oeste são encontrados amigos com quem realizar o empreendimento porque são levados em consideração o fator trabalho a ser realizado até o final, ou seja, o trabalho a ser realizado pertence ao verão, ao momento de luz do dia, à força empregada e direcionada. A finalização desse trabalho pertence ao outono, ao momento do final do dia, ao descanso da força de trabalho.

Por outro lado, no leste e no norte, amigos devem ser evitados....

Não devemos nos esquecer que K’un, A Terra, ocupa o lugar do sudoeste e que Ch’ien, O Céu, ocupa o lugar do noroeste, dentro do Mapa do Mundo da Manifestação, quando Terra e Céu se retiram de seus postos norteadores e assumem posições mais simples: a Terra antes do por do sol, antes do final, antes do término, antes da retirada; e o Céu, depois do por do sol, trazendo a noite, depois do término, depois da retirada.

No entanto, A Terra ainda continua fazendo parte da integração da natureza da Luz – Luz é matéria – e o Céu continua atuando dentro da Não-Luz para fazer um novo universo, ou dia, acontecer! Dessa forma, Ch’ien, O Céu, o Criativo, em seu posto no noroeste, já inspira o norte (K’an, A Água), o inverno, a meia-noite, a realizar o verdadeiro final para dar início ao verdadeiro re-começo no leste (Chen, O Trovão), na primavera, no raiar do dia, no nascer do sol para uma nova realização de vida acontecer sob a égide de K’un, A Terra, levar a cabo seu trabalho – sem dirigi-lo.

Sendo assim, K’un, A Terra, O Receptivo, procura amigos que lhe ajudem no trabalho de feitura e finalização daquilo que já existe, sob a inspiração de Ch’ien, O Céu.

É também importante observamos que são as Filhas que rodeiam K’un, A Terra, no Mapa do Céu Posterior....e a energia feminina é Yin e Receptiva Também a parte de cima do Mapa do Mundo da Manifestação – que é a parte do dia e do trabalho - é toda tomada pelo setor feminino da Família do Céu e da Terra; enquanto a parte de baixo – a parte da noite e do repouso - é toda tomada pelo setor masculino, Yang e Criativo!

Por tudo isso, o I Ching conclui o Julgamento: "Uma perseverança tranqüila traz boa fortuna"


A Imagem

As imagens superpostas de K’un, A Terra, nos traz duas vezes a idéia de Espaço: Espaço na Terra e Espaço no Céu.

O Espaço do Trigrama da Terra pode ser entendido como aquele onde estamos assentados e estruturados.

O Espaço do Trigrama do Céu nos traz as Virtudes de K’un, A Terra,: Devoção, Receptividade, Perseverança, Simplicidade, Abrangência, Humildade, Interiorização....a serem vivenciadas por nós em nossa encarnação nesse Planeta de materialização...

Também as imagens repetidas de K’un, A Terra, nos remete à própria natureza da terra, feita de terras mais altas, terras mais baixas....

A Terra, K’un, em sua Simplicidade, lembra o vale, o lugar mais fundo, mias interiorizado – a consciência do Vazio.


"O Espírito do Vale nunca morre
Isso se chama Orifício Misterioso
A porta do Orifício Misterioso
É a raiz do céu e da terra
Seja suave e constante
Usufruindo sem se apressar" (5)


Trigramas e Hexagrama Nucleares

O Espírito do Vale e O Orifício Misterioso são imagens que novamente surgem quando revelamos os Trigramas Nucleares inseridos dentro de K’un, A Terra, O Receptivo.
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K’un, A Terra,        K’un, A Terra,
O Receptivo       O Receptivo

"A abrangência da Virtude do Orifício,
é seguir apenas o Caminho" (6)

Sendo o Espírito do Vale a consciência do Vazio, essa consciência, K’un, A Terra, alcança a extremidade da extremidade do universo, onde o Revirão do Universo – O Orifício Misterioso - atua. Esse é o lugar da essência da Luz manifestada através de Ch’ien, O Céu.

Para se alcançar o Orifício Misterioso, é preciso viver as Virtudes de K’un, A Terra, O Abranger, O Vazio.


As Linhas  


O I Ching nos acautela quanto ao mal que pode se esconder dentro das linhas Yin consideradas "obscuras", sem luz. Essa prudência acontece devido ao fato de que K’un, A Terra, dentro do Mapa do Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior, ocupa o lugar do inverno ou do limite máximo do aparente caminho do sol durante seu trajeto anual.... Esse limite, no oeste do hemisfério norte, é onde se situa o sudoeste - que é para onde K’un, A Terra se muda, se retira, quando do Mapa do Mundo da Manifestação ou Céu Posterior.

Sendo assim, o caminho ascendente das linhas vai nos indicar que prudência, cautela, humildade e perseverança são fundamentais para se atingir o término – para que novo começo possa acontecer com o retorno do sol em seu caminho em direção ao verão de Ch’ien, O Céu (no Mapa do Céu Anterior) e que se situa no noroeste (no Mapa do Céu Posterior).

A primeira e a sexta linhas são as que mais são avisadas em relação a esse inexorável término: no caso da primeira linha, a previsão cautelosa quanto ao final; no caso da sexta linha a obrigatoriedade do retorno. A terceira e a quarta linhas temem a transição entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu porque não vêem nada, nem atrás nem adiante....é um salto no escuro... A segunda e a quinta linhas nada temem e conservam-se iluminadas dentro do Vazio, abraçadas à Virtude da Humildade.


Linha a Linha
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___ ___ A Primeira Linha

A primeira linha, Terra do Trigrama da Terra, nos revela os primórdios do outono que trará o inverno consigo. K’un, A Terra, no Mapa da Seqüência do Céu Posterior, encontra-se no lugar do sudoeste, o amadurecimento da vida, a preparação para o outono, para o recolhimento e para o sono profundo do inverno, da noite, da vida.

Assim, o I Ching diz: "Quando se caminha pela geada, o gelo sólido não estará longe"
O gelo pertence ao inverno, que é o lugar de K’an, A Água, O Mistério, O Perigo, O Norte, O Sono Profundo. Dessa maneira, K’un, A Terra, na primeira linha do Trigrama da Terra, deve preparar-se e acautelar-se em relação ao futuro – mesmo que este ainda esteja distante e não visível... Previsão correta e cautela são os bons conselhos dessa linha.

A fragilidade da primeira linha se dá pelo fato de ser Yin – quando essa linha, idealmente, é Yang. Se fosse Yang, sairia da inação, linha Yin, para a ação, linha Yang, formando então o Hexagrama Fu, O Retorno da Luz.
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Fu, O Retorno da Luz

A verdade é que este Hexagrama, Fu, O Retorno da Luz, somente irá acontecer após a escalada das seis etapas das linhas Yin do Hexagrama K’un, O Receptivo, acontecer...

Essa é, então, a esperança trazida para a primeira linha: apesar de não estar ainda ciente dos perigos que virão, estes certamente virão e serão superados através da previsão correta, da cautela e fundamentalmente da não-ação – Virtude de K’un, A Terra – (que será ratificada na segunda linha) para a ação correta no tempo certo novamente poder acontecer, trazendo um novo tempo, um novo Hexagrama!

"Os homens na realização de suas atividades
sempre fracassam em suas quase-conclusões.
Cautela tanto no fim quanto no princípio
Conduz à atividade sem fracasso." (6)


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___ ___ A Segunda Linha
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A segunda linha é a linha governante do hexagrama. É a linha do Homem da Terra e K’un, A Terra, é o próprio Trigrama da Terra.

Sendo Terra, o I Ching diz: "Reto, quadrado, grande". A Terra é simbolizada como um quadrado e o Céu como um círculo. Como curiosidade, as melhores e mais adequadas moedas para se jogar o Oráculo do I Ching, são aquelas (antigas) moedas redondas com um buraco quadrado no centro...dessa forma, Céu e Terra estarão sendo representados.

O I Ching continua: "Sem propósito porém nada permanece desfavorecido"

A linha do Homem da Terra, em K’un, O Receptivo, a linha do homem simples, do funcionário do reino, do discípulo que está sendo acordado a viver seu Caminho do Céu, é uma posição que se deixa simplesmente viver, com humildade e não-ação, sendo orientada pelo Sopro do Tao em sua abrangência e docilidade.

Sendo uma linha Yin e correta, isto é, em lugar idealmente Yin, a não-ação é o seu curso correto de ação. A não-ação não significa nada fazer,; significa sim, deixar que o universo flua e a ação correta é se deixar fluir junto com o universo, vivendo a vida a cada dia, a cada instante, no aqui e agora. Assim, nada permanece desfavorecido.

Quando o I Ching diz: "Sem propósito", ele quer significar que a segunda linha, mesmo sendo idealmente correta, primeiramente encontra-se bastante distante das motivações externas, na medida que é ainda coberta por outras quatro linhas também Yin e obscuras. Em segundo lugar, a segunda se corresponde naturalmente com a quinta linha, que idealmente deveria ser Yang (para lhe trazer o propósito, a motivação). Sendo, na verdade, a quinta linha também Yin, esse propósito, essa motivação, essa conscientização normalmente advinda da consciência iluminada da quinta linha....- somente ratificam a necessidade de se manter a vida na atitude da não-ação, a Virtude do Homem Sagrado em K’un, O Receptivo.

"O Caminho é uma constante não-ação
Que nada deixa por realizar
Se reis e príncipes pudessem resguardai-lo
Os dez mil seres iriam se transformar por si.
Porém, se nada transformação despertassem desejos
Eu iria estabilizá-los através da simplicidade do sem-nome
A simplicidade do sem-nome também se inicia no não-desejo.
Não-desejo para se tornar quieto
E o céu e a terra, por si, estarão em retidão" (2)


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___ ___ A Terceira Linha
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A terceira linha de K’un, O Receptivo, é Yin e idealmente incorreta, pois se encontra em posição de ação, de linha Yang, para ter a força necessária para realizar a transição entre Terra e Céu, entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu.

Sendo assim, essa transição deve ser realizada com perseverança, quase como numa obscuridade, numa dificuldade de conscientização da situação – desde que o Trigrama do Céu também traz três linhas Yin e obscuras.

Por isso, o I Ching diz: "Linhas ocultas. Alguém é capaz de permanecer perseverante".

E continua: "Se acaso você está a serviço de um rei, não procure trabalhos, porém leve à conclusão".

O rei é a consciência iluminada, conquistada no Trigrama do Céu, principalmente com a quinta linha, como já aprendemos anteriormente.

Os trabalhos, no plural, significam a multiplicidade ou pluralidade que a própria linha Yin e Vazada traz consigo: K’un, A Terra, é mãe de todo o universo e de toda a criação! Porque a terceira linha é idealmente Yang, o I Ching pede que ela não se perca enredada em pluralidade de intenções, mas apenas se concentre em uma só intenção (linha Yang e Contínua), ou seja, na sua intenção de se colocar a serviço de um rei (a consciência iluminada) – assim como a quarta linha faz, o ministro que se coloca a serviço do rei, a quinta linha.

Dessa forma, mesmo que a terceira linha se sinta ocultada pelas linhas Yin do Trigrama do Céu, ela deve permanecer perseverante em levar à conclusão sua empreitada, que é a de realizar a transição entre a Terra e o Céu, entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu.




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___ ___ A Quarta Linha
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A quarta linha já realizou a transição entre a Terra e o Céu, porém ainda se sente "amarrada" em seu Caminho do Céu. Sendo assim, o I Ching diz: "Saco amarrado. Nenhuma culpa. Nenhum elogio"

A expectativa da quarta linha é de que a quinta linha, a linha da consciência iluminada, seja Yang e Contínua e preferivelmente, a linha governante do hexagrama. Como isso não acontece em K’un, o Receptivo (Nenhuma culpa), a quarta linha – mesmo que em posição idealmente correta (linha Yin em posição Yin), sente-se contraída e desestimulada (Nenhum elogio) em sua ação de acompanhamento da próxima linha, porém faz o que deve uma linha correta em posição corretamente Yin fazer: submeter-se, curvar-se à sua situação.

"Curvar-se permite a plenitude
Submeter-se permite a retidão
Esvaziar-se permite o preenchimento" (7)




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___ ___ A Quinta Linha
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A quinta linha é a linha do rei, da consciência iluminada que a tudo rege no universo. Por se encontrar no Trigrama do Céu do Hexagrama K’un, A Terra, A Humildade, O Receptivo, a quinta linha também não se revela ao mundo, mantendo uma atitude Yin e interiorizada. Isso não significa, porém, que não possua sua Luz intrínseca, sua consciência iluminada. Por isso, o I Ching diz: "Roupa de baixo amarela traz suprema boa fortuna"

Quando do momento do eclipse total do sol, seu disco se torna totalmente negro, encoberto pela Lua que esconde o brilho escandalosamente amarelo do sol! O I Ching comenta esse instante maravilhoso através do texto de sua quinta linha de K’un, O Receptivo.

Esse é o momento do Êxtase Espiritual, quando Sol e Lua, ou seja, O Espírito e O Sopro Primordial se fundem, trazendo a Fixação e posteriormente, o Elixir da Vida... Dessa forma, a Entrada no Vazio se dá com a Plenitude da Luz interiorizada na Não-Luz...

A Humildade é a maior Virtude do Homem Sagrado. Quando o Caminhante se encontra no Caminho da Imortalidade – já tendo adquirido sua Iluminação – ele começa a processar em seu Caldeirão (seu corpo físico) o Feto Sagrado, aquela energia de Luz que cresce até transmutar-se em Corpo de Luz ou Corpo Solar.

Para que tudo isso possa acontecer sem desviar o Caminhante de seu Caminho do Céu, a conduta baseada na Humildade é a Virtude, Te, para a realização do Tao, O Caminho.

Sendo assim, a quinta linha do Hexagrama K’un, O Receptivo, é extremamente apropriada e iluminada – mesmo não sendo idealmente correta (linha Yin em posição Yang).

(*) O amarelo é a cor da Terra. A Terra se encontra no centro dos quatro elementos e pontos cardeais e representa a Fidelidade:

· A leste, encontra-se Chen, o Trovão, com as cores azul ou verde, tendo como elemento (junto com Sun, O Vento) a madeira e representando o Amor e a Bondade.
· Ao sul, encontra-se Li, O Fogo, com a cor vermelha, tendo como elemento o fogo e representa os Costumes e a Polidez
· Ao oeste, encontra-se Tui, O Lago, com a cor branca, tendo como elemento o metal e representando a Justiça
· Ao norte, encontra-se K’an, A Água, com a cor preta, tendo como elemento a água e representando a Sabedoria.

"Conhecendo o masculino, resguardando o feminino
Sendo a ravina sob o céu
Sem se afastar da Virtude Eterna
Retornará a ser criança
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Conhecendo a glória, resguardando a humildade
Sendo o vale sob o céu
Sendo o vale sob o céu, completará a Virtude Eterna
R retornará a ser a madeira bruta" (8)



___ ___ A Sexta Linha
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A sexta linha é Yin e idealmente correta. É a linha do mestre, aquele que se retira após galgar todas as etapas de seu Caminho do Céu, com a consciência iluminada e infinita e possivelmente com vida infinita já conquistada...

Em K’un, O Receptivo, no entanto, existe uma advertência quanto ao fato de a sexta linha não ter a consciência de seus limites e tentar, indefinidamente, manter a Não-Luz em si mesma, não se deixando transmutar em Luz ou em se transmutar para a realização de um novo hexagrama.

Sendo a sexta linha a linha final, a finalização do hexagrama e o cume do Trigrama do Céu, dentro do Hexagrama K’un, A Terra, O Receptivo, são chamados então representantes do Céu para virem à Terra e convencerem a sexta linha a se retirar – para dar início a um novo tempo, ao Retorno da Luz, como já vimos prenunciando desde a primeira linha que já antecipava a vinda de Fu, o Retorno da Luz.

Por isso, o I Ching diz: "Dragões lutando no prado. Seu sangue é negro e amarelo."
Dragões são os representantes do Céu. O prado é o lugar da Terra. O sangue amarelo é o sangue da Terra que acolhe esses dragões enquanto o sangue negro é o Perigo advindo de K’an, A Água, que traz consigo a cor negra.

No Mapa do Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior, K’un, A Terra, ocupa a posição do inverno, o ponto final do andamento aparente do sol – dentro do Rio Amarelo – em seu percurso anual de noroeste a sudoeste....

Assim é que quando chega o inverno, o sol atinge seu ponto máximo em direção ao sudoeste – para o hemisfério norte na parte da tarde, com o por do sol). A partir desse ponto máximo, o sol RETORNA, ou seja, ele inicia seu Caminho do Céu rumo ao noroeste – quando chega o verão.... Esse retorno é inevitável, inexorável.... Por isso que o I Ching na sexta linha enfatiza o confronto entre o Céu e a Terra; é o momento do Revirão, do Oito do Sol, do Eterno Retorno.

"O retorno é o movimento do Caminho" (9)

No Mapa do Mundo da Manifestação, ou Céu Posterior, K’un, A Terra, assume seu lugar manifestado no sudoeste (andamento máximo do sol no poente do inverno) enquanto Ch’ien, O Céu, assume seu lugar manifestado no noroeste (andamento máximo do sol no poente do verão). (Sempre para o hemisfério norte, sendo o inverso para o hemisfério sul).

É portanto, K’an, A Água, O Abismal, O Mistério, O Perigo, A Sabedoria, aquele que assume a posição de inverno, do norte, do final dos finais para que o novo começo possa surgir. Assim, sendo o negro a cor de K’an, A Água, ela se confunde com o amarelo, cor da Terra, na luta dos dragões celestes e terrestres, para se fazer acontecer Fu, O Retorno da Luz com a promessa de que o Caminho do Céu é uma realidade.
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Fu, o Retorno da Luz

Fu, O Retorno da Luz, é a consciência iluminada, é a Iluminação que surge quando o Vazio, a Não-Luz Suprema, tenha cumprido suas seis etapas e permitido a sétima etapa acontecer....

Também podemos inferir que o negro e o amarelo sejam o momento mágico do eclipse total do sol, quando o disco negro da Lua esconde o amarelo-ouro do Sol. São momentos maravilhosos que, no entanto, duram pouco, no máximo, sete minutos! Inexoravelmente, A Lua continua seguir seu caminho e o sol também...

Quando, no Oráculo, o Caminhante consegue seis linhas mutáveis, o I Ching diz: "A perseverança constante é favorável"

A perseverança constante de K’un, A Terra, significa realizar todos os 64 Encontros ou Hexagramas do Caminho do Céu!

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K’un, 
A Terra
                    Ch’ien, O Céu

"O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás
E o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo" (10)
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Tao Te Ching , O Livro do Caminho e da Virtude – Lao Tsé
Capítulo 4
Capítulo 9
Capítulo 37
Capítulo 10
Capítulo 6
Capítulo 21
Capítulo 64
Capítulo 22
Capítulo 28
Capítulo 40
Capítulo 7
Traduzido por Wu Jyh Cherng – Editora Ursa Maior
(*) Extraído da transcrição realizada pela autora de aula ministrada por Wu Jyh Cherng sobre o Capítulo 12 do Tao Te Ching em agosto de 1994


O Bambú

O Bambú
O bambú verga... dificilmente quebra: assim devemos nos conduzir