Capítulo 12 - Reflexões

O FIO DA MEADA
O I Ching do Caminho do Céu
1997

Janine Milward


Capítulo XII


Reflexões

A Meditação e o Trabalho Espiritual
Mestres e mestres
A Alquimia do Tao
O Caminho da Iluminação e o Caminho da Imortalidade
O Eclipse Total do Sol e o Caminho do Céu e da Terra
A Meditação
O que é o Vazio, o que é o Samadhi, o que é a Iluminação, o que é o Tao?
O Eclipse do Sol e os Passos da Meditação dentro das Seis Linhas do Hexagrama


O Homem Sagrado é aquele que realiza dentro de si mesmo, O Tao e O Te, O Caminho e A Virtude.

Sendo o Tao O Caminho, para alcançá-lo é então preciso Caminhar.... Ao Caminhar, O Caminhante realiza seu Caminho, esse é o Te.... O Caminho só existe quando existe O Caminhante Caminhando seu Caminho...
Uma longa jornada
inicia-se debaixo dos pés (1)

Para Caminhar o Caminho, sendo o Caminhante que realiza o Tao e o Te, é preciso manter a consciência expandida buscando a Iluminação e preservando O Elixir da Vida.

Alcançar a expansão da consciência e realizar o Elixir da Vida, significa praticar o trabalho espiritual de Caminhante em seu Caminhar em seu Caminho, ou seja, sentar no silêncio, meditar.

A meditação deve ser praticada diariamente, preferivelmente duas vezes ao dia, antes do amanhecer e na hora do entardecer, em jejum, antes das refeições.

A meditação é a alimentação espiritual do homem para manter-se como Caminhante Caminhando seu Caminho, assim como ele precisa de sua alimentação física para manter-se em seu caminho de vida encarnada.

Ao sentar-se no silêncio, O Caminhante dá início ao seu Caminhar em seu Caminho. As costas ficam eretas.... O Caminhante imita Ken, A Montanha, O Mestre, A Quietude... Um Caminhante em meditação imaja uma montanha bem assentada na Terra, realizando em si um triângulo de forma a simbolizar a Sagrada Tríade: O Princípio Primordial, O Tesouro do Espírito e o Mestre.
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Sentado em seu silêncio interior absoluto, o Caminhante se torna a própria montanha....e então, surge Sun, O Vento, A Madeira, que lhe dita seu mantra essencial, aquele que irá fazer a ponte entre o Caminhante e seu Caminho....
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Entoando seu mantra, o Caminhante permanece com sua mente e seus olhos interiores direcionados para o Cakra do Conhecimento que se situa num ponto energético entre as sobrancelhas....ao mesmo tempo que o Caminhante coloca sua mente na inspiração e expiração, tentando acamá-la, tornando-a cada vez mais suave, mais tranqüila, mais lenta, mais sintonizada com o ritmo do universal.
Seja suave e constante
usufruindo sem se apressar (2)

A respiração, esse fole universal, é o Sopro Primordial, a energia primordial advinda do Absoluto, do Tao do Céu Anterior, do Mundo da Não-Manifestação, que existe em todo o universo e que nos é presenteada como uma benção a cada instante de nossa vida de encarnação, desde nossa primeira inspiração até nossa última expiração.....

O mantra que acompanha nossos passos durante as primeiras etapas da meditação, deve ser um mantra que nos traduza ao universo ao mesmo tempo que nos reproduza o som do universo instalado dentro de nós.....a cada inspiração e com a palavra correta do mantra, trazemos a energia do universo para dentro de nós...a cada expiração e com a palavra correta do mantra, devolvemos ao universo a energia que reside dentro de nós....


Essa troca de energias é compreendida como o "fole universal" que atua como o Sopro Primordial do universo advindo do Absoluto.

O espaço entre o céu e a terra
assemelha-se a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação (1)

Esse Sopro Primordial nos é inculcado por K’an, A Água, O Abismal, A Sabedoria, A Alma...
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Ainda durante as primeira etapas da meditação, conservando o mantra, a mente sintonizada com o chacra do Conhecimento, conservando a inspiração e expiração fluindo harmoniosamente, concretizando o Sopro Primordial....existe também a presença atuante da consciência real – aquela que faz parte do universo e de nós mesmos.... Essa consciência é chamada de Espírito e nos é infundida por Li, O Fogo, O Espírito, O Aderir, A Clareza, A Compreensão...

Ao longo da meditação, a consciência real, O Espírito, e a respiração, O Sopro Primordial, vão formando um processo de fusionamento de tal maneira que em um determinado momento, se fusionam totalmente e se tornam Um: é o momento da Fixação.

O momento da Fixação é fundamental para que a meditação possa ter seu verdadeiro início! É preciso saber conservar a Fixação mais e mais, cada vez mais tempo, para que seja formado o Elixir da Vida, uma energia de total fusão entre O Espírito e O Sopro Primordial, o começo de tudo e o fim de tudo, o Tao da Criação, o Elixir da Vida.

Dentro da Fixação e banhado pelo Elixir da Vida, o homem tem seu momento de Êxtase Espiritual, o motivo pelo qual o Caminhante Caminha seu Caminho, o Encontro com seu Tao Interior.

É comum durante as várias etapas da meditação, acontecerem ao Caminhante várias questões que devem ser bem trabalhadas e vivenciadas... Algumas questões podem ser relacionadas a encontros com seres e lugares que certamente não são nossos conhecidos cotidianamente.

O importante, nesses casos, será o uso do bom discernimento para se saber se esses encontros com seres e lugares nos trazem uma boa energia ou não. Em segundo lugar, é importante que saibamos que esses momentos ainda não traduzem uma profundidade na meditação... Ao contrário, esse momentos podem ser ilusórios quanto ao bom proveito da meditação, confundindo nossa mente, e portanto nos desviando do caminho correto a ser seguido....

O mais correto, em relação ao processo da meditação e das práticas espirituais, é, primeiramente, ser iniciado por um mestre vivo e realizado e em segundo lugar, realizar o trabalho sempre sob o seu acompanhamento.

Esses mestres nem sempre estão ainda no Caminho da Imortalidade mas já atingiram o Caminho da Iluminação ou estão muito perto dele, podendo assim, instruir seus discípulos e os Caminhantes sob sua proteção sobre como Caminhar seus Caminhos, como vivenciar seus Caminhos e suas Virtudes....

Outras questões fazem parte também das etapas da meditação e podem ser reconhecidos como deveras importantes para a realização do Caminho: em dado momento, já quando alcançamos e conservamos a Fixação, nosso corpo recebe ondas de energias intensas que são denominadas de "Rodas do Moinho".

Essas Rodas do Moinho se apresentam durante um certo tempo em nossas meditações – e se elas se apresentam é porque estamos no bom caminho de aprofundamento da meditação – e servem para energizar todo o corpo físico e etérico, chacoalhando mesmo de tal forma o Caminhante que medita, que a pessoa deve fazer um enorme esforço para não se desviar da Fixação e da preservação do Elixir da Vida e deixar que essas Rodas do Moinho façam seu trabalho de limpeza interior e exterior... As Rodas do Moinho são advindas de Chen, O Trovão, o Inesperado, O Irromper.
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Então, existe o retorno da calma, da tranqüilidade do corpo físico e da mente. Nessa etapa da meditação, o Caminhante já se encontra pronto para espelhar o Céu na Terra: é o momento de Tui, O Lago, A Alegria, O Espelho.
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Estando preparado para entrar em Êxtase Espiritual, O Caminhante, finalmente, realiza a fusão total do Espírito com o Sopro Primordial, formando assim o Elixir da Vida.

Quando o Elixir da Vida se expressa de forma inteiramente amadurecida, o Caminhante está prestes a realizar o doce Encontro do Céu com a Terra, em Tai, Paz:
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Tai, Paz

O momento de Tai, Paz, é quando, numa fração da fração de milionésimo de segundos, K’un, A Terra, realizou todo o seu Caminho do Céu (dentro do amadurecimento do Elixir da Vida), finalmente se encontrando com Ch’ien, O Céu. É o momento do Vazio.
O Caminho é o vazio (3)

Assim é o Tao.
O retorno é o movimento do Caminho (4)

Mestres e mestres

O mais correto, em relação ao processo da meditação e das práticas espirituais, é, primeiramente, ser iniciado por um mestre vivo e realizado e em segundo lugar, realizar o trabalho sempre sob o acompanhamento desse mestre.

O mestre realizado é aquele que já cumpriu uma boa parte de sua jornada rumo ao Tao, é um Caminhante que continua Caminhando em seu Caminho, vivenciando o Tao e o Te. Esse mestre nem sempre está ainda no Caminho da Imortalidade mas já atingiu o Caminho da Iluminação ou está muito perto dele, podendo assim, instruir seus discípulos e os Caminhantes sob sua proteção sobre como Caminhar seus Caminhos, como viver seus Caminhos e suas Virtudes....

O mestre ser ainda vivo é também um aspecto essencial no sentido de poder mostrar e demonstrar como o Caminhante Caminha seu Caminho através de seu próprio exemplo.

De uma forma geral, esse mestre vivo e realizado faz parte de uma Egrégora Espiritual que atua através de uma linhagem ininterrupta de mestres ao longo dos tempos, como elos de uma mesma corrente estruturada pela Tradição e pelos Mestres Imortais do passado....

Lao Tsé, por exemplo, é o grande guardião da Tradição do Tao, é o Mestre, é Aquele que podemos entender como a manifestação encarnada mais próxima da imagem do Mestre dentro da Grande Tríade, ou Tríplice Transparência, do Tao: O Princípio Primordial, O Tesouro do Espírito e o Mestre - aquele que realiza em si mesmo, O Tao e O Te, O Caminho e a Virtude.

Certamente, nosso planeta vem nos apresentando ao longo de sua história, grandes Mestres que se situam no Vazio entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação.

Existem mestres e Mestres.

O Mestre, é aquele que, a princípio realizou seu Caminho por si mesmo – possivelmente por já ter entrado na encarnação com a consciência iluminada e infinita e seu Elixir da Vida preservado.... Esses Mestres deixam suas marcas bem claras através de sua sabedoria revelada e de seus exemplos, porém, normalmente, não deixam marcas de seus corpos....por terem se tornado Imortais e terem ascendido.

A Alquimia do Tao

No Caminho da Iluminação o que se pretende alcançar é a infinitude da consciência, a plena e total iluminação da consciência, a expansão ilimitada da consciência.

Essa consciência já vem fusionada com o Espírito que por sua vez já se fusionou com o Sopro Primordial e O Elixir da Vida é uma energia concreta, objetivada – que pode, porém, ser perdida.
Dessa forma, com o Elixir da Vida adquirido, o Caminhante parte, então, para o reprocessamento desse Elixir, tornando-o mais e mais preservado e amadurecido.

O amadurecimento completo, através da realização do Caminho e da Virtude, ou seja, do aprofundamento na meditação e nas práticas espirituais, leva o Caminhante a, do Elixir da Vida amadurecido, alquimizar sua transformação em Feto Sagrado, ou seja, dar gestação a um ser de luz dentro de si mesmo. Esse sentimento de estar gestando um Ser de Luz não é ilusório ou subjetivo, não, é real mesmo: começa a surgir no ventre do Caminhante uma energia condensada extremamente poderosa.

Quando o Feto Sagrado se torna totalmente amadurecido surge o Corpo Solar ou Corpo de Luz ainda interiorizado dentro do Caminhante. Existem Mestres que são tão iluminados por este Corpo Solar que iluminam qualquer lugar onde chegam!

Finalmente, este Corpo Solar é exteriorizado e a partir desse momento, o Caminhante Iluminado passa a trabalhar seu próprio corpo físico , seu Caldeirão, para torná-lo apto a se interiorizar totalmente dentro do Corpo Solar – que passa a ser o corpo real e alquimizado do Caminhante Iluminado e prestes a se tornar um Imortal, O Homem Sagrado.

Essa é a Alquimia do Tao. Essa Alquimia surge a partir da constância do Céu e da duração da Terra, ou seja, da fusão dos elementos do Mundo da Não-Manifestação com os do Mundo da Manifestação....isso traz a eternidade.

O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás
E o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo. (5)


O Caminho da Iluminação e o Caminho da Imortalidade

O Caminho da Imortalidade se dá quando, ao morrer, o Iluminado não deixa seu corpo na terra para ser cremado ou enterrado...ele ascende para o céu com seu Corpo de Luz exteriorizado e seu corpo físico interiorizado e totalmente alquimizado – tudo é Corpo de Luz - tornando-se, então, um Imortal. Mestre Jesus foi um claro exemplo de Ascensão aos Céus.

Essa é a Sagração do Homem, esse é o Homem Sagrado.
O Caminho tem o poder do eterno
Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer (6)

O Caminho da Imortalidade é muito mais além do que O Caminho da Iluminação – desde que traz a Infinitude da Consciência e da Vida, A Imortalidade, e não somente a Infinitude da Consciência, A Iluminação.

O Iluminado ainda continua atado à Roda da Vida, retornando à encarnação para continuar processando seu Elixir da Vida. Ele possui a consciência infinita mas ainda não possui, em si mesmo, a própria Luz. Luz é matéria. É somente dentro da encarnação que o processamento da própria Luz pode ser realizado e a Alquimia do Tao pode ser completada.
Concluir o nome, terminar a obra, retirar o corpo
Este é o Caminho do Céu (7)

O Imortal não mais continua atado à Roda da Vida, não mais precisando retornar à encarnação.... No entanto, muitos Imortais assumem o compromisso de retornar á encarnação e atuarem como mestres até que o último ser alcance sua Iluminação e Imortalidade...
Mas quem pode possuir sobra para oferecer ao mundo?
Somente aquele que possui o Caminho
Por isso, o Homem Sagrado
Age sem querer para si
Conclui a obra mas não se apega
E não deseja mostrar sua eminência (8)


Lao Tsé bem nos descreve o Iluminado e o Imortal quando qualifica ambos de "Grande", sendo que o primeiro é o "Ir" e o segundo o "Retornar" bem como ambos são "O rei", ou seja, aquele que possui em si (o Iluminado) e é em si (O Imortal) a Consciência do Tao: :O Espírito e O Sopro Primordial da Criação.

Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho
Esforçando-me por denominá-lo, chamo-o de Grande
Grande significa Ir
Ir significa Distante
Distante significa Retornar
O Caminho é grande
O céu é grande
A terra é grande
O rei é grande
Dentro do universo há quatro grandes,
E o rei é um deles.
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Tao
O Tao se orienta por sua própria natureza (9)
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Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude – Lao TséCapítulo 5Capítulo 6Capítulo 4Capítulo 40Capítulo 7Capítulo 16Capítulo 9Capítulo 77Capítulo 25
Tradução de Wu Jyh Cherng – Editora Ursa Maior
Bibliografia: - Textos transcritos (em duas partes) pela autora a partir da aula ministrada por Wu Jyh Cherng
sobre a Alquimia Taoísta em 24 de maio de 1994, na Sociedade Taoísta do Rio de Janeiro.

.................... (a continuidade deste Capítulo encontra-se no Primeiro Volume de O Fio da Meada).............

O Bambú

O Bambú
O bambú verga... dificilmente quebra: assim devemos nos conduzir