O FIO DA MEADA


I Ching do Caminho do Céu



© 1997

Janine Milward



Trama e Urdidura, Tempo e Espaço, Sublime Yang e Sublime Yin:

os 64 Hexagramas no Caminho do Céu



K'un, A Terra, O Vazio, A Mãe, O Receptivo, é ela própria o Fio da Meada trabalhando sua Urdidura através do Espaço até encontrar-se com Ch'ien, O Céu, O Pai, O Criativo, através do Tempo.



O Fio da Urdidura vai desde o Espaço até o Tempo, de K'un, A Terra, a Ch'ien, o Céu. Ao longo desse Caminho, a Mãe e o Pai vão criando, tecendo, seus Seis Filhos - Trovão, Montanha e Água; Fogo, Vento e Lago - e todos vão perfazendo suas realizações, em Trama e Urdidura.


Assim é o Caminho do Céu, um caminho tecido através de 64 Estações da Vida, começando com K'un, O Receptivo, passando por todas as possibilidades de encontros entre pai, mãe e filhos e terminando com Ch'ien, O Criativo.
Esse é o I Ching do Mundo da Não-Manifestação, do Céu Anterior, aquele que dá berço ao I Ching do Mundo da Manifestação, do Céu Posterior... quando este último tem seu início acontecendo com O Criativo, Hexagrama 1, seguido de O Receptivo, Hexagrama 2.


Sendo o Espaço finito e o Tempo infinito, ambos encontram-se em um breve momento de Luz e de Não-Luz... E depois retornam.


Lao Tsé nos diz, em seu Capítulo 40:


O retorno é o movimento do Caminho

A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres nascem da existência
E a existência nasce da não-existência




Penso que os Universos começam e terminam exatamente no momento do breve encontro entre Luz e Não-Luz, entre Sublime Yang e Sublime Yin.


Apresento, portanto, meu livro O Fio da Meada onde tento descrever o I Ching do Caminho do Céu através Análise e Estudo minuciosos sobre a estrutura fundamental do I Ching, o Livro das Mutações, em seus Textos, Julgamentos, Imagens e Linhas bem como ao longo de seus 64 Hexagramas!



Se você estiver interessado em conhecer profundamente O Fio da Meada, inscreva-se no Curso Personalizado via internet, com as aulas teóricas apresentando todos os Capítulos da Introdução aos Conceitos do I Ching, o Livro das Mutações, bem como os Hexagramas sendo apresentados através suas estruturações começando a partir da Terra e seguindo através Montanha, Água, Vento, Trovão, Fogo, Lago e, finalmente, Céu. Nas aulas práticas, você poderá trazer suas consultas oraculares para serem comentadas entre nós!





Com um abraço estrelado,

Janine Milward







Hexagrama Kun, A Terra, O Receptivo - iniciando o I Ching do Caminho do Céu



O FIO DA MEADA

O I Ching do Caminho do Céu

1997

Janine Milward




K’un, O Receptivo, O Vazio, 
A Mãe, A Terra, O Devocional


"O Caminho é o Vazio" (1)

Entra em cena, K’un, A Terra, A Mãe, O Vazio, A Não-Luz, A Obscuridade, A Devoção, O Receptivo, O Abranger, A Abnegação, A Humildade, A Paz, A Pureza, A Retidão, A Bondade, A Perseverança, A Docilidade, O Povo, O Reino, O Coletivo, As Massas.

K’un, A Terra, encontra-se consigo mesma formando o Hexagrama K’un, O Receptivo, inaugurando os 64 Encontros de Imagens ou 64 Hexagramas do I Ching do Caminho do Céu – do Céu Anterior, do Mundo do Não-Manifestado.

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___ ___ K’un, A Terra, Trigrama Visitante
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___ ___ K’un, A Terra, Trigrama Primordial
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K’un, A Terra, é a própria significação do Trigrama da Terra.

O Trigrama da Terra, ou Trigrama Primordial, ou Trigrama Inferior, ou Trigrama Interno, é aquele que não apenas dá sustentação ao hexagrama em si – por representar a própria Terra, a base, a estrutura, como também quase sempre nos traz a idéia de algo que se encontra velado, ainda não revelado; coberto, ainda não descoberto.

Diferente do Trigrama do Céu que – por representar o próprio Céu – é aquele que repousa sobre a base, a estrutura do hexagrama em si, como também nos traz, quase sempre, a idéia de algo que se encontra revelado e não-velado, descoberto e não-coberto.

Sendo assim, em K’un, O Receptivo, Terra sobre Terra, existem essas duas qualidades de Trigramas a serem vivenciadas pela Abnegação, pela Humildade, pela Receptividade e Abrangência de K’un, A Terra.

As Virtudes de K’un, A Terra, são as qualidades essenciais do Homem Sagrado. E essas qualidades devem ser vivenciadas tanto dentro dos preceitos da Terra como do Céu.

Na Terra, as Virtudes de K’un, A Terra, levam o Homem Sagrado à compreensão sobre a consagração de seu corpo físico, elevando-o a altos níveis de espiritualidade a ponto de torná-lo um Corpo de Luz - que é o processo de mutação de toda a matéria existente no universo - e libertá-lo da Roda da Vida.

Luz é matéria e assim sendo, é dentro da Terra, da matéria, da encarnação real e vivenciada, que o Homem Sagrado atinge sua Iluminação e sua Liberação, sua Imortalidade, sua Luz própria – sua Consciência infinita e sua Vida infinita!

No Céu, as Virtudes de K’un, A Terra, levam o Homem Sagrado a realizar sua obra, seu nome, sua vida e retirar-se... ou seja, praticar a Virtude da Humildade.


O Julgamento


No I Ching do Caminho do Céu, K’un, O Vazio, A Terra, vai deixando que a Luz do sublime Tao, emanada por Ch’ien, O Céu, O Criativo, a preencha por inteiro – e dessa forma, todos os Filhos e Filhas vão surgindo, perfazendo todos os degraus desse Caminho.

Quando finalmente K’un, A Terra, alcança Ch’ien, O Céu, dá-se a transmutação total do Vazio da Não-Luz em Luz Plena: a Terra retira seu corpo....para tornar-se um Corpo de Luz!
"Concluir o nome, terminar a obra,
retirar o corpo – este é o Caminho do Céu." (2)

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K’un, A Terra Ch’ien, O Céu


Para tanto, para realizar tão grande tarefa, o I Ching nos diz no Julgamento:

"O Receptivo traz sublime sucesso, propiciado através da perseverança de uma égua."

Em Ch’ien, O Céu, O Criativo, menciona-se o dragão. O dragão voa nos céus.

Em K’un, A Terra, O Receptivo, menciona-se a égua. A égua vive na terra. Na realidade, a vaca é o animal de K’un, A Terra, em função de sua mansidão, de sua docilidade. No entanto, quando se trata do Hexagrama K’un, O Receptivo, a Terra repetida no Trigrama da Terra e no Trigrama do Céu nos traz a idéia de vastíssima extensão de terra – e nesse caso, é a égua, animal terrestre e rápido, que é mencionada no Julgamento.

Outras Virtudes também pertencem a K’un, A Terra, como a não-ação, o não-desejo, o desapego, a simplicidade....

"O Caminho é uma constante não ação
Que nada deixa por realizar
Se reis e príncipes pudessem resguardai-lo
Os dez mil seres iriam se transformar por si.
Porém, se nada transformação despertassem desejos
Eu iria estabilizá-los através da simplicidade do sem-nome
A simplicidade do sem-nome também se inicia no não-desejo.
Não-desejo para se tornar quieto
E o céu e a terra, por si, estarão em retidão" (3)

No I Ching, se diz no Julgamento: "Se o homem superior empreender algo e tentar dirigir, ele se desviará"

Assim, a não-ação e o não-desejo são essenciais de serem compreendidos. A não-ação não significa nada fazer. Significa fazer o que e quando deve ser feito de acordo com a naturalidade do momento. É a "Misteriosa Virtude". E fundamentalmente, fazer, realizar, sem se apegar, sem querer para si – esse é o não-desejo

"O que gera e cria,
gera mas sem se apossar
age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se "Misteriosa Virtude" (4)

O I Ching continua, no Julgamento: "porém, se ele seguir, encontrará orientação."

Dentro da não-ação, de acordo com a naturalidade do momento e das circunstâncias, algo deve ser realizado.... Primeiramente, a ação, a realização, são Virtudes de Ch’ien, O Céu, O Criativo. À Terra, K’un, cabe ser conduzida, através da Docilidade e da Abnegação que lhes são essenciais. Dessa forma, a orientação encontrada virá através do seguir o silêncio, a calma, a paz interior, a interiorização, a meditação, o sentar-se no silêncio.

"É favorável encontrar amigos a oeste e ao sul, evitar amigos a leste e ao norte".

Nessa parte do Julgamento, nós somos remetidos ao Mapa do Mundo da Manifestação ou Céu Posterior onde encontramos Li, O Fogo, O Sol, O Espírito, ocupando o lugar do sul, do verão, do meio-dia, do sol a pino. No oeste, encontramos Tui, O Lago, A Alegria, O Espelho, o outono, o cair da tarde, o por do sol, a retirada....

No sul e no oeste são encontrados amigos com quem realizar o empreendimento porque são levados em consideração o fator trabalho a ser realizado até o final, ou seja, o trabalho a ser realizado pertence ao verão, ao momento de luz do dia, à força empregada e direcionada. A finalização desse trabalho pertence ao outono, ao momento do final do dia, ao descanso da força de trabalho.

Por outro lado, no leste e no norte, amigos devem ser evitados....

Não devemos nos esquecer que K’un, A Terra, ocupa o lugar do sudoeste e que Ch’ien, O Céu, ocupa o lugar do noroeste, dentro do Mapa do Mundo da Manifestação, quando Terra e Céu se retiram de seus postos norteadores e assumem posições mais simples: a Terra antes do por do sol, antes do final, antes do término, antes da retirada; e o Céu, depois do por do sol, trazendo a noite, depois do término, depois da retirada.

No entanto, A Terra ainda continua fazendo parte da integração da natureza da Luz – Luz é matéria – e o Céu continua atuando dentro da Não-Luz para fazer um novo universo, ou dia, acontecer! Dessa forma, Ch’ien, O Céu, o Criativo, em seu posto no noroeste, já inspira o norte (K’an, A Água), o inverno, a meia-noite, a realizar o verdadeiro final para dar início ao verdadeiro re-começo no leste (Chen, O Trovão), na primavera, no raiar do dia, no nascer do sol para uma nova realização de vida acontecer sob a égide de K’un, A Terra, levar a cabo seu trabalho – sem dirigi-lo.

Sendo assim, K’un, A Terra, O Receptivo, procura amigos que lhe ajudem no trabalho de feitura e finalização daquilo que já existe, sob a inspiração de Ch’ien, O Céu.

É também importante observamos que são as Filhas que rodeiam K’un, A Terra, no Mapa do Céu Posterior....e a energia feminina é Yin e Receptiva Também a parte de cima do Mapa do Mundo da Manifestação – que é a parte do dia e do trabalho - é toda tomada pelo setor feminino da Família do Céu e da Terra; enquanto a parte de baixo – a parte da noite e do repouso - é toda tomada pelo setor masculino, Yang e Criativo!

Por tudo isso, o I Ching conclui o Julgamento: "Uma perseverança tranqüila traz boa fortuna"


A Imagem

As imagens superpostas de K’un, A Terra, nos traz duas vezes a idéia de Espaço: Espaço na Terra e Espaço no Céu.

O Espaço do Trigrama da Terra pode ser entendido como aquele onde estamos assentados e estruturados.

O Espaço do Trigrama do Céu nos traz as Virtudes de K’un, A Terra,: Devoção, Receptividade, Perseverança, Simplicidade, Abrangência, Humildade, Interiorização....a serem vivenciadas por nós em nossa encarnação nesse Planeta de materialização...

Também as imagens repetidas de K’un, A Terra, nos remete à própria natureza da terra, feita de terras mais altas, terras mais baixas....

A Terra, K’un, em sua Simplicidade, lembra o vale, o lugar mais fundo, mias interiorizado – a consciência do Vazio.


"O Espírito do Vale nunca morre
Isso se chama Orifício Misterioso
A porta do Orifício Misterioso
É a raiz do céu e da terra
Seja suave e constante
Usufruindo sem se apressar" (5)


Trigramas e Hexagrama Nucleares

O Espírito do Vale e O Orifício Misterioso são imagens que novamente surgem quando revelamos os Trigramas Nucleares inseridos dentro de K’un, A Terra, O Receptivo.
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K’un, A Terra,        K’un, A Terra,
O Receptivo       O Receptivo

"A abrangência da Virtude do Orifício,
é seguir apenas o Caminho" (6)

Sendo o Espírito do Vale a consciência do Vazio, essa consciência, K’un, A Terra, alcança a extremidade da extremidade do universo, onde o Revirão do Universo – O Orifício Misterioso - atua. Esse é o lugar da essência da Luz manifestada através de Ch’ien, O Céu.

Para se alcançar o Orifício Misterioso, é preciso viver as Virtudes de K’un, A Terra, O Abranger, O Vazio.


As Linhas  


O I Ching nos acautela quanto ao mal que pode se esconder dentro das linhas Yin consideradas "obscuras", sem luz. Essa prudência acontece devido ao fato de que K’un, A Terra, dentro do Mapa do Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior, ocupa o lugar do inverno ou do limite máximo do aparente caminho do sol durante seu trajeto anual.... Esse limite, no oeste do hemisfério norte, é onde se situa o sudoeste - que é para onde K’un, A Terra se muda, se retira, quando do Mapa do Mundo da Manifestação ou Céu Posterior.

Sendo assim, o caminho ascendente das linhas vai nos indicar que prudência, cautela, humildade e perseverança são fundamentais para se atingir o término – para que novo começo possa acontecer com o retorno do sol em seu caminho em direção ao verão de Ch’ien, O Céu (no Mapa do Céu Anterior) e que se situa no noroeste (no Mapa do Céu Posterior).

A primeira e a sexta linhas são as que mais são avisadas em relação a esse inexorável término: no caso da primeira linha, a previsão cautelosa quanto ao final; no caso da sexta linha a obrigatoriedade do retorno. A terceira e a quarta linhas temem a transição entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu porque não vêem nada, nem atrás nem adiante....é um salto no escuro... A segunda e a quinta linhas nada temem e conservam-se iluminadas dentro do Vazio, abraçadas à Virtude da Humildade.


Linha a Linha
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___ ___ A Primeira Linha

A primeira linha, Terra do Trigrama da Terra, nos revela os primórdios do outono que trará o inverno consigo. K’un, A Terra, no Mapa da Seqüência do Céu Posterior, encontra-se no lugar do sudoeste, o amadurecimento da vida, a preparação para o outono, para o recolhimento e para o sono profundo do inverno, da noite, da vida.

Assim, o I Ching diz: "Quando se caminha pela geada, o gelo sólido não estará longe"
O gelo pertence ao inverno, que é o lugar de K’an, A Água, O Mistério, O Perigo, O Norte, O Sono Profundo. Dessa maneira, K’un, A Terra, na primeira linha do Trigrama da Terra, deve preparar-se e acautelar-se em relação ao futuro – mesmo que este ainda esteja distante e não visível... Previsão correta e cautela são os bons conselhos dessa linha.

A fragilidade da primeira linha se dá pelo fato de ser Yin – quando essa linha, idealmente, é Yang. Se fosse Yang, sairia da inação, linha Yin, para a ação, linha Yang, formando então o Hexagrama Fu, O Retorno da Luz.
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Fu, O Retorno da Luz

A verdade é que este Hexagrama, Fu, O Retorno da Luz, somente irá acontecer após a escalada das seis etapas das linhas Yin do Hexagrama K’un, O Receptivo, acontecer...

Essa é, então, a esperança trazida para a primeira linha: apesar de não estar ainda ciente dos perigos que virão, estes certamente virão e serão superados através da previsão correta, da cautela e fundamentalmente da não-ação – Virtude de K’un, A Terra – (que será ratificada na segunda linha) para a ação correta no tempo certo novamente poder acontecer, trazendo um novo tempo, um novo Hexagrama!

"Os homens na realização de suas atividades
sempre fracassam em suas quase-conclusões.
Cautela tanto no fim quanto no princípio
Conduz à atividade sem fracasso." (6)


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___ ___ A Segunda Linha
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A segunda linha é a linha governante do hexagrama. É a linha do Homem da Terra e K’un, A Terra, é o próprio Trigrama da Terra.

Sendo Terra, o I Ching diz: "Reto, quadrado, grande". A Terra é simbolizada como um quadrado e o Céu como um círculo. Como curiosidade, as melhores e mais adequadas moedas para se jogar o Oráculo do I Ching, são aquelas (antigas) moedas redondas com um buraco quadrado no centro...dessa forma, Céu e Terra estarão sendo representados.

O I Ching continua: "Sem propósito porém nada permanece desfavorecido"

A linha do Homem da Terra, em K’un, O Receptivo, a linha do homem simples, do funcionário do reino, do discípulo que está sendo acordado a viver seu Caminho do Céu, é uma posição que se deixa simplesmente viver, com humildade e não-ação, sendo orientada pelo Sopro do Tao em sua abrangência e docilidade.

Sendo uma linha Yin e correta, isto é, em lugar idealmente Yin, a não-ação é o seu curso correto de ação. A não-ação não significa nada fazer,; significa sim, deixar que o universo flua e a ação correta é se deixar fluir junto com o universo, vivendo a vida a cada dia, a cada instante, no aqui e agora. Assim, nada permanece desfavorecido.

Quando o I Ching diz: "Sem propósito", ele quer significar que a segunda linha, mesmo sendo idealmente correta, primeiramente encontra-se bastante distante das motivações externas, na medida que é ainda coberta por outras quatro linhas também Yin e obscuras. Em segundo lugar, a segunda se corresponde naturalmente com a quinta linha, que idealmente deveria ser Yang (para lhe trazer o propósito, a motivação). Sendo, na verdade, a quinta linha também Yin, esse propósito, essa motivação, essa conscientização normalmente advinda da consciência iluminada da quinta linha....- somente ratificam a necessidade de se manter a vida na atitude da não-ação, a Virtude do Homem Sagrado em K’un, O Receptivo.

"O Caminho é uma constante não-ação
Que nada deixa por realizar
Se reis e príncipes pudessem resguardai-lo
Os dez mil seres iriam se transformar por si.
Porém, se nada transformação despertassem desejos
Eu iria estabilizá-los através da simplicidade do sem-nome
A simplicidade do sem-nome também se inicia no não-desejo.
Não-desejo para se tornar quieto
E o céu e a terra, por si, estarão em retidão" (2)


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___ ___ A Terceira Linha
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A terceira linha de K’un, O Receptivo, é Yin e idealmente incorreta, pois se encontra em posição de ação, de linha Yang, para ter a força necessária para realizar a transição entre Terra e Céu, entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu.

Sendo assim, essa transição deve ser realizada com perseverança, quase como numa obscuridade, numa dificuldade de conscientização da situação – desde que o Trigrama do Céu também traz três linhas Yin e obscuras.

Por isso, o I Ching diz: "Linhas ocultas. Alguém é capaz de permanecer perseverante".

E continua: "Se acaso você está a serviço de um rei, não procure trabalhos, porém leve à conclusão".

O rei é a consciência iluminada, conquistada no Trigrama do Céu, principalmente com a quinta linha, como já aprendemos anteriormente.

Os trabalhos, no plural, significam a multiplicidade ou pluralidade que a própria linha Yin e Vazada traz consigo: K’un, A Terra, é mãe de todo o universo e de toda a criação! Porque a terceira linha é idealmente Yang, o I Ching pede que ela não se perca enredada em pluralidade de intenções, mas apenas se concentre em uma só intenção (linha Yang e Contínua), ou seja, na sua intenção de se colocar a serviço de um rei (a consciência iluminada) – assim como a quarta linha faz, o ministro que se coloca a serviço do rei, a quinta linha.

Dessa forma, mesmo que a terceira linha se sinta ocultada pelas linhas Yin do Trigrama do Céu, ela deve permanecer perseverante em levar à conclusão sua empreitada, que é a de realizar a transição entre a Terra e o Céu, entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu.




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___ ___ A Quarta Linha
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A quarta linha já realizou a transição entre a Terra e o Céu, porém ainda se sente "amarrada" em seu Caminho do Céu. Sendo assim, o I Ching diz: "Saco amarrado. Nenhuma culpa. Nenhum elogio"

A expectativa da quarta linha é de que a quinta linha, a linha da consciência iluminada, seja Yang e Contínua e preferivelmente, a linha governante do hexagrama. Como isso não acontece em K’un, o Receptivo (Nenhuma culpa), a quarta linha – mesmo que em posição idealmente correta (linha Yin em posição Yin), sente-se contraída e desestimulada (Nenhum elogio) em sua ação de acompanhamento da próxima linha, porém faz o que deve uma linha correta em posição corretamente Yin fazer: submeter-se, curvar-se à sua situação.

"Curvar-se permite a plenitude
Submeter-se permite a retidão
Esvaziar-se permite o preenchimento" (7)




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___ ___ A Quinta Linha
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A quinta linha é a linha do rei, da consciência iluminada que a tudo rege no universo. Por se encontrar no Trigrama do Céu do Hexagrama K’un, A Terra, A Humildade, O Receptivo, a quinta linha também não se revela ao mundo, mantendo uma atitude Yin e interiorizada. Isso não significa, porém, que não possua sua Luz intrínseca, sua consciência iluminada. Por isso, o I Ching diz: "Roupa de baixo amarela traz suprema boa fortuna"

Quando do momento do eclipse total do sol, seu disco se torna totalmente negro, encoberto pela Lua que esconde o brilho escandalosamente amarelo do sol! O I Ching comenta esse instante maravilhoso através do texto de sua quinta linha de K’un, O Receptivo.

Esse é o momento do Êxtase Espiritual, quando Sol e Lua, ou seja, O Espírito e O Sopro Primordial se fundem, trazendo a Fixação e posteriormente, o Elixir da Vida... Dessa forma, a Entrada no Vazio se dá com a Plenitude da Luz interiorizada na Não-Luz...

A Humildade é a maior Virtude do Homem Sagrado. Quando o Caminhante se encontra no Caminho da Imortalidade – já tendo adquirido sua Iluminação – ele começa a processar em seu Caldeirão (seu corpo físico) o Feto Sagrado, aquela energia de Luz que cresce até transmutar-se em Corpo de Luz ou Corpo Solar.

Para que tudo isso possa acontecer sem desviar o Caminhante de seu Caminho do Céu, a conduta baseada na Humildade é a Virtude, Te, para a realização do Tao, O Caminho.

Sendo assim, a quinta linha do Hexagrama K’un, O Receptivo, é extremamente apropriada e iluminada – mesmo não sendo idealmente correta (linha Yin em posição Yang).

(*) O amarelo é a cor da Terra. A Terra se encontra no centro dos quatro elementos e pontos cardeais e representa a Fidelidade:

· A leste, encontra-se Chen, o Trovão, com as cores azul ou verde, tendo como elemento (junto com Sun, O Vento) a madeira e representando o Amor e a Bondade.
· Ao sul, encontra-se Li, O Fogo, com a cor vermelha, tendo como elemento o fogo e representa os Costumes e a Polidez
· Ao oeste, encontra-se Tui, O Lago, com a cor branca, tendo como elemento o metal e representando a Justiça
· Ao norte, encontra-se K’an, A Água, com a cor preta, tendo como elemento a água e representando a Sabedoria.

"Conhecendo o masculino, resguardando o feminino
Sendo a ravina sob o céu
Sem se afastar da Virtude Eterna
Retornará a ser criança
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Conhecendo a glória, resguardando a humildade
Sendo o vale sob o céu
Sendo o vale sob o céu, completará a Virtude Eterna
R retornará a ser a madeira bruta" (8)



___ ___ A Sexta Linha
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A sexta linha é Yin e idealmente correta. É a linha do mestre, aquele que se retira após galgar todas as etapas de seu Caminho do Céu, com a consciência iluminada e infinita e possivelmente com vida infinita já conquistada...

Em K’un, O Receptivo, no entanto, existe uma advertência quanto ao fato de a sexta linha não ter a consciência de seus limites e tentar, indefinidamente, manter a Não-Luz em si mesma, não se deixando transmutar em Luz ou em se transmutar para a realização de um novo hexagrama.

Sendo a sexta linha a linha final, a finalização do hexagrama e o cume do Trigrama do Céu, dentro do Hexagrama K’un, A Terra, O Receptivo, são chamados então representantes do Céu para virem à Terra e convencerem a sexta linha a se retirar – para dar início a um novo tempo, ao Retorno da Luz, como já vimos prenunciando desde a primeira linha que já antecipava a vinda de Fu, o Retorno da Luz.

Por isso, o I Ching diz: "Dragões lutando no prado. Seu sangue é negro e amarelo."
Dragões são os representantes do Céu. O prado é o lugar da Terra. O sangue amarelo é o sangue da Terra que acolhe esses dragões enquanto o sangue negro é o Perigo advindo de K’an, A Água, que traz consigo a cor negra.

No Mapa do Mundo da Não-Manifestação ou Céu Anterior, K’un, A Terra, ocupa a posição do inverno, o ponto final do andamento aparente do sol – dentro do Rio Amarelo – em seu percurso anual de noroeste a sudoeste....

Assim é que quando chega o inverno, o sol atinge seu ponto máximo em direção ao sudoeste – para o hemisfério norte na parte da tarde, com o por do sol). A partir desse ponto máximo, o sol RETORNA, ou seja, ele inicia seu Caminho do Céu rumo ao noroeste – quando chega o verão.... Esse retorno é inevitável, inexorável.... Por isso que o I Ching na sexta linha enfatiza o confronto entre o Céu e a Terra; é o momento do Revirão, do Oito do Sol, do Eterno Retorno.

"O retorno é o movimento do Caminho" (9)

No Mapa do Mundo da Manifestação, ou Céu Posterior, K’un, A Terra, assume seu lugar manifestado no sudoeste (andamento máximo do sol no poente do inverno) enquanto Ch’ien, O Céu, assume seu lugar manifestado no noroeste (andamento máximo do sol no poente do verão). (Sempre para o hemisfério norte, sendo o inverso para o hemisfério sul).

É portanto, K’an, A Água, O Abismal, O Mistério, O Perigo, A Sabedoria, aquele que assume a posição de inverno, do norte, do final dos finais para que o novo começo possa surgir. Assim, sendo o negro a cor de K’an, A Água, ela se confunde com o amarelo, cor da Terra, na luta dos dragões celestes e terrestres, para se fazer acontecer Fu, O Retorno da Luz com a promessa de que o Caminho do Céu é uma realidade.
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Fu, o Retorno da Luz

Fu, O Retorno da Luz, é a consciência iluminada, é a Iluminação que surge quando o Vazio, a Não-Luz Suprema, tenha cumprido suas seis etapas e permitido a sétima etapa acontecer....

Também podemos inferir que o negro e o amarelo sejam o momento mágico do eclipse total do sol, quando o disco negro da Lua esconde o amarelo-ouro do Sol. São momentos maravilhosos que, no entanto, duram pouco, no máximo, sete minutos! Inexoravelmente, A Lua continua seguir seu caminho e o sol também...

Quando, no Oráculo, o Caminhante consegue seis linhas mutáveis, o I Ching diz: "A perseverança constante é favorável"

A perseverança constante de K’un, A Terra, significa realizar todos os 64 Encontros ou Hexagramas do Caminho do Céu!

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K’un, 
A Terra
                    Ch’ien, O Céu

"O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás
E o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo" (10)
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Tao Te Ching , O Livro do Caminho e da Virtude – Lao Tsé
Capítulo 4
Capítulo 9
Capítulo 37
Capítulo 10
Capítulo 6
Capítulo 21
Capítulo 64
Capítulo 22
Capítulo 28
Capítulo 40
Capítulo 7
Traduzido por Wu Jyh Cherng – Editora Ursa Maior
(*) Extraído da transcrição realizada pela autora de aula ministrada por Wu Jyh Cherng sobre o Capítulo 12 do Tao Te Ching em agosto de 1994


Capítulo 12 - Reflexões

O FIO DA MEADA
O I Ching do Caminho do Céu
1997

Janine Milward


Capítulo XII


Reflexões

A Meditação e o Trabalho Espiritual
Mestres e mestres
A Alquimia do Tao
O Caminho da Iluminação e o Caminho da Imortalidade
O Eclipse Total do Sol e o Caminho do Céu e da Terra
A Meditação
O que é o Vazio, o que é o Samadhi, o que é a Iluminação, o que é o Tao?
O Eclipse do Sol e os Passos da Meditação dentro das Seis Linhas do Hexagrama


O Homem Sagrado é aquele que realiza dentro de si mesmo, O Tao e O Te, O Caminho e A Virtude.

Sendo o Tao O Caminho, para alcançá-lo é então preciso Caminhar.... Ao Caminhar, O Caminhante realiza seu Caminho, esse é o Te.... O Caminho só existe quando existe O Caminhante Caminhando seu Caminho...
Uma longa jornada
inicia-se debaixo dos pés (1)

Para Caminhar o Caminho, sendo o Caminhante que realiza o Tao e o Te, é preciso manter a consciência expandida buscando a Iluminação e preservando O Elixir da Vida.

Alcançar a expansão da consciência e realizar o Elixir da Vida, significa praticar o trabalho espiritual de Caminhante em seu Caminhar em seu Caminho, ou seja, sentar no silêncio, meditar.

A meditação deve ser praticada diariamente, preferivelmente duas vezes ao dia, antes do amanhecer e na hora do entardecer, em jejum, antes das refeições.

A meditação é a alimentação espiritual do homem para manter-se como Caminhante Caminhando seu Caminho, assim como ele precisa de sua alimentação física para manter-se em seu caminho de vida encarnada.

Ao sentar-se no silêncio, O Caminhante dá início ao seu Caminhar em seu Caminho. As costas ficam eretas.... O Caminhante imita Ken, A Montanha, O Mestre, A Quietude... Um Caminhante em meditação imaja uma montanha bem assentada na Terra, realizando em si um triângulo de forma a simbolizar a Sagrada Tríade: O Princípio Primordial, O Tesouro do Espírito e o Mestre.
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Sentado em seu silêncio interior absoluto, o Caminhante se torna a própria montanha....e então, surge Sun, O Vento, A Madeira, que lhe dita seu mantra essencial, aquele que irá fazer a ponte entre o Caminhante e seu Caminho....
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Entoando seu mantra, o Caminhante permanece com sua mente e seus olhos interiores direcionados para o Cakra do Conhecimento que se situa num ponto energético entre as sobrancelhas....ao mesmo tempo que o Caminhante coloca sua mente na inspiração e expiração, tentando acamá-la, tornando-a cada vez mais suave, mais tranqüila, mais lenta, mais sintonizada com o ritmo do universal.
Seja suave e constante
usufruindo sem se apressar (2)

A respiração, esse fole universal, é o Sopro Primordial, a energia primordial advinda do Absoluto, do Tao do Céu Anterior, do Mundo da Não-Manifestação, que existe em todo o universo e que nos é presenteada como uma benção a cada instante de nossa vida de encarnação, desde nossa primeira inspiração até nossa última expiração.....

O mantra que acompanha nossos passos durante as primeiras etapas da meditação, deve ser um mantra que nos traduza ao universo ao mesmo tempo que nos reproduza o som do universo instalado dentro de nós.....a cada inspiração e com a palavra correta do mantra, trazemos a energia do universo para dentro de nós...a cada expiração e com a palavra correta do mantra, devolvemos ao universo a energia que reside dentro de nós....


Essa troca de energias é compreendida como o "fole universal" que atua como o Sopro Primordial do universo advindo do Absoluto.

O espaço entre o céu e a terra
assemelha-se a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação (1)

Esse Sopro Primordial nos é inculcado por K’an, A Água, O Abismal, A Sabedoria, A Alma...
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Ainda durante as primeira etapas da meditação, conservando o mantra, a mente sintonizada com o chacra do Conhecimento, conservando a inspiração e expiração fluindo harmoniosamente, concretizando o Sopro Primordial....existe também a presença atuante da consciência real – aquela que faz parte do universo e de nós mesmos.... Essa consciência é chamada de Espírito e nos é infundida por Li, O Fogo, O Espírito, O Aderir, A Clareza, A Compreensão...

Ao longo da meditação, a consciência real, O Espírito, e a respiração, O Sopro Primordial, vão formando um processo de fusionamento de tal maneira que em um determinado momento, se fusionam totalmente e se tornam Um: é o momento da Fixação.

O momento da Fixação é fundamental para que a meditação possa ter seu verdadeiro início! É preciso saber conservar a Fixação mais e mais, cada vez mais tempo, para que seja formado o Elixir da Vida, uma energia de total fusão entre O Espírito e O Sopro Primordial, o começo de tudo e o fim de tudo, o Tao da Criação, o Elixir da Vida.

Dentro da Fixação e banhado pelo Elixir da Vida, o homem tem seu momento de Êxtase Espiritual, o motivo pelo qual o Caminhante Caminha seu Caminho, o Encontro com seu Tao Interior.

É comum durante as várias etapas da meditação, acontecerem ao Caminhante várias questões que devem ser bem trabalhadas e vivenciadas... Algumas questões podem ser relacionadas a encontros com seres e lugares que certamente não são nossos conhecidos cotidianamente.

O importante, nesses casos, será o uso do bom discernimento para se saber se esses encontros com seres e lugares nos trazem uma boa energia ou não. Em segundo lugar, é importante que saibamos que esses momentos ainda não traduzem uma profundidade na meditação... Ao contrário, esse momentos podem ser ilusórios quanto ao bom proveito da meditação, confundindo nossa mente, e portanto nos desviando do caminho correto a ser seguido....

O mais correto, em relação ao processo da meditação e das práticas espirituais, é, primeiramente, ser iniciado por um mestre vivo e realizado e em segundo lugar, realizar o trabalho sempre sob o seu acompanhamento.

Esses mestres nem sempre estão ainda no Caminho da Imortalidade mas já atingiram o Caminho da Iluminação ou estão muito perto dele, podendo assim, instruir seus discípulos e os Caminhantes sob sua proteção sobre como Caminhar seus Caminhos, como vivenciar seus Caminhos e suas Virtudes....

Outras questões fazem parte também das etapas da meditação e podem ser reconhecidos como deveras importantes para a realização do Caminho: em dado momento, já quando alcançamos e conservamos a Fixação, nosso corpo recebe ondas de energias intensas que são denominadas de "Rodas do Moinho".

Essas Rodas do Moinho se apresentam durante um certo tempo em nossas meditações – e se elas se apresentam é porque estamos no bom caminho de aprofundamento da meditação – e servem para energizar todo o corpo físico e etérico, chacoalhando mesmo de tal forma o Caminhante que medita, que a pessoa deve fazer um enorme esforço para não se desviar da Fixação e da preservação do Elixir da Vida e deixar que essas Rodas do Moinho façam seu trabalho de limpeza interior e exterior... As Rodas do Moinho são advindas de Chen, O Trovão, o Inesperado, O Irromper.
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Então, existe o retorno da calma, da tranqüilidade do corpo físico e da mente. Nessa etapa da meditação, o Caminhante já se encontra pronto para espelhar o Céu na Terra: é o momento de Tui, O Lago, A Alegria, O Espelho.
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Estando preparado para entrar em Êxtase Espiritual, O Caminhante, finalmente, realiza a fusão total do Espírito com o Sopro Primordial, formando assim o Elixir da Vida.

Quando o Elixir da Vida se expressa de forma inteiramente amadurecida, o Caminhante está prestes a realizar o doce Encontro do Céu com a Terra, em Tai, Paz:
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Tai, Paz

O momento de Tai, Paz, é quando, numa fração da fração de milionésimo de segundos, K’un, A Terra, realizou todo o seu Caminho do Céu (dentro do amadurecimento do Elixir da Vida), finalmente se encontrando com Ch’ien, O Céu. É o momento do Vazio.
O Caminho é o vazio (3)

Assim é o Tao.
O retorno é o movimento do Caminho (4)

Mestres e mestres

O mais correto, em relação ao processo da meditação e das práticas espirituais, é, primeiramente, ser iniciado por um mestre vivo e realizado e em segundo lugar, realizar o trabalho sempre sob o acompanhamento desse mestre.

O mestre realizado é aquele que já cumpriu uma boa parte de sua jornada rumo ao Tao, é um Caminhante que continua Caminhando em seu Caminho, vivenciando o Tao e o Te. Esse mestre nem sempre está ainda no Caminho da Imortalidade mas já atingiu o Caminho da Iluminação ou está muito perto dele, podendo assim, instruir seus discípulos e os Caminhantes sob sua proteção sobre como Caminhar seus Caminhos, como viver seus Caminhos e suas Virtudes....

O mestre ser ainda vivo é também um aspecto essencial no sentido de poder mostrar e demonstrar como o Caminhante Caminha seu Caminho através de seu próprio exemplo.

De uma forma geral, esse mestre vivo e realizado faz parte de uma Egrégora Espiritual que atua através de uma linhagem ininterrupta de mestres ao longo dos tempos, como elos de uma mesma corrente estruturada pela Tradição e pelos Mestres Imortais do passado....

Lao Tsé, por exemplo, é o grande guardião da Tradição do Tao, é o Mestre, é Aquele que podemos entender como a manifestação encarnada mais próxima da imagem do Mestre dentro da Grande Tríade, ou Tríplice Transparência, do Tao: O Princípio Primordial, O Tesouro do Espírito e o Mestre - aquele que realiza em si mesmo, O Tao e O Te, O Caminho e a Virtude.

Certamente, nosso planeta vem nos apresentando ao longo de sua história, grandes Mestres que se situam no Vazio entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação.

Existem mestres e Mestres.

O Mestre, é aquele que, a princípio realizou seu Caminho por si mesmo – possivelmente por já ter entrado na encarnação com a consciência iluminada e infinita e seu Elixir da Vida preservado.... Esses Mestres deixam suas marcas bem claras através de sua sabedoria revelada e de seus exemplos, porém, normalmente, não deixam marcas de seus corpos....por terem se tornado Imortais e terem ascendido.

A Alquimia do Tao

No Caminho da Iluminação o que se pretende alcançar é a infinitude da consciência, a plena e total iluminação da consciência, a expansão ilimitada da consciência.

Essa consciência já vem fusionada com o Espírito que por sua vez já se fusionou com o Sopro Primordial e O Elixir da Vida é uma energia concreta, objetivada – que pode, porém, ser perdida.
Dessa forma, com o Elixir da Vida adquirido, o Caminhante parte, então, para o reprocessamento desse Elixir, tornando-o mais e mais preservado e amadurecido.

O amadurecimento completo, através da realização do Caminho e da Virtude, ou seja, do aprofundamento na meditação e nas práticas espirituais, leva o Caminhante a, do Elixir da Vida amadurecido, alquimizar sua transformação em Feto Sagrado, ou seja, dar gestação a um ser de luz dentro de si mesmo. Esse sentimento de estar gestando um Ser de Luz não é ilusório ou subjetivo, não, é real mesmo: começa a surgir no ventre do Caminhante uma energia condensada extremamente poderosa.

Quando o Feto Sagrado se torna totalmente amadurecido surge o Corpo Solar ou Corpo de Luz ainda interiorizado dentro do Caminhante. Existem Mestres que são tão iluminados por este Corpo Solar que iluminam qualquer lugar onde chegam!

Finalmente, este Corpo Solar é exteriorizado e a partir desse momento, o Caminhante Iluminado passa a trabalhar seu próprio corpo físico , seu Caldeirão, para torná-lo apto a se interiorizar totalmente dentro do Corpo Solar – que passa a ser o corpo real e alquimizado do Caminhante Iluminado e prestes a se tornar um Imortal, O Homem Sagrado.

Essa é a Alquimia do Tao. Essa Alquimia surge a partir da constância do Céu e da duração da Terra, ou seja, da fusão dos elementos do Mundo da Não-Manifestação com os do Mundo da Manifestação....isso traz a eternidade.

O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros
Assim,
O Homem Sagrado deixa seu corpo para trás
E o Corpo avança
Além do corpo, o Corpo permanece
Através do não-corpo, conclui o Corpo. (5)


O Caminho da Iluminação e o Caminho da Imortalidade

O Caminho da Imortalidade se dá quando, ao morrer, o Iluminado não deixa seu corpo na terra para ser cremado ou enterrado...ele ascende para o céu com seu Corpo de Luz exteriorizado e seu corpo físico interiorizado e totalmente alquimizado – tudo é Corpo de Luz - tornando-se, então, um Imortal. Mestre Jesus foi um claro exemplo de Ascensão aos Céus.

Essa é a Sagração do Homem, esse é o Homem Sagrado.
O Caminho tem o poder do eterno
Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer (6)

O Caminho da Imortalidade é muito mais além do que O Caminho da Iluminação – desde que traz a Infinitude da Consciência e da Vida, A Imortalidade, e não somente a Infinitude da Consciência, A Iluminação.

O Iluminado ainda continua atado à Roda da Vida, retornando à encarnação para continuar processando seu Elixir da Vida. Ele possui a consciência infinita mas ainda não possui, em si mesmo, a própria Luz. Luz é matéria. É somente dentro da encarnação que o processamento da própria Luz pode ser realizado e a Alquimia do Tao pode ser completada.
Concluir o nome, terminar a obra, retirar o corpo
Este é o Caminho do Céu (7)

O Imortal não mais continua atado à Roda da Vida, não mais precisando retornar à encarnação.... No entanto, muitos Imortais assumem o compromisso de retornar á encarnação e atuarem como mestres até que o último ser alcance sua Iluminação e Imortalidade...
Mas quem pode possuir sobra para oferecer ao mundo?
Somente aquele que possui o Caminho
Por isso, o Homem Sagrado
Age sem querer para si
Conclui a obra mas não se apega
E não deseja mostrar sua eminência (8)


Lao Tsé bem nos descreve o Iluminado e o Imortal quando qualifica ambos de "Grande", sendo que o primeiro é o "Ir" e o segundo o "Retornar" bem como ambos são "O rei", ou seja, aquele que possui em si (o Iluminado) e é em si (O Imortal) a Consciência do Tao: :O Espírito e O Sopro Primordial da Criação.

Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho
Esforçando-me por denominá-lo, chamo-o de Grande
Grande significa Ir
Ir significa Distante
Distante significa Retornar
O Caminho é grande
O céu é grande
A terra é grande
O rei é grande
Dentro do universo há quatro grandes,
E o rei é um deles.
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Tao
O Tao se orienta por sua própria natureza (9)
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Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude – Lao TséCapítulo 5Capítulo 6Capítulo 4Capítulo 40Capítulo 7Capítulo 16Capítulo 9Capítulo 77Capítulo 25
Tradução de Wu Jyh Cherng – Editora Ursa Maior
Bibliografia: - Textos transcritos (em duas partes) pela autora a partir da aula ministrada por Wu Jyh Cherng
sobre a Alquimia Taoísta em 24 de maio de 1994, na Sociedade Taoísta do Rio de Janeiro.

.................... (a continuidade deste Capítulo encontra-se no Primeiro Volume de O Fio da Meada).............

Capítulo 11 - Considerações sobre a Formação dos 64 Hexagramas

O FIO DA MEADA
O I Ching do Caminho do Céu
1997
Janine Milward


Capítulo XI


Considerações sobre a formação dos 64 Hexagramas
sendo tecidos pelos encontros realizados entre
Terra, Montanha, Agua, Vento, Trovão, Fogo, Lago e Céu.


I Ching do Mundo da Manifestação

Tendo visto todo o emaranhado de situações que o I Ching, o Livro das Mutações, nos apresenta, estamos agora diante da longa realidade de todos os Encontros entre os Trigramas, formando os Hexagramas que caracterizam a individualidade de cada membro dessa Família do Céu e da Terra - dentro da repetição dos Trigramas - e formando os demais 72 Hexagramas que retratam a inter-ação do Homem com o Céu e com a Terra - dentro da ação estruturadora de cada Trigrama recebendo a visita dos demais familiares.

Dentro do I Ching do Mundo da Manifestação - que é aquele que normalmente encontramos nas Livrarias -, vamos ver o começo do Livro das Mutações acontecendo através a figura do Sublime Yin morando nas Seis Linhas do Hexagrama, e assim formando Ch’ien, o Céu, O Pai, O Criativo. Depois, encontraremos a figura do Sublime Yin morando nas Seis Linhas do Hexagrama, e assim formando K’un, A Terra, A Mãe, O Receptivo. Esses são então considerados os Hexagramas Um e Dois.

Os demais Hexagramas vão seguindo, sempre acontecendo através a inversão de suas imagens estruturadas em suas Linhas. Finalmente, o I Ching do Mundo da Manifestação, termina com os representantes mais diretos do Pai e da Mãe - O Fogo e A Água - formando entre si, sempre em inversão das imagens estruturadas nas Linhas, os Hexagramas Após a Conclusão, de número 63, e Antes da Conclusão, de número 64.

......... para que tudo possa recomeçar a partir dos Hexagramas 1 e 2, O Criativo e O Receptivo.


I Ching do Caminho do Céu ou Mundo da Não-Manifestação

No I Ching do Caminho do Céu, porém, é seguido o conceito do Mundo da Não-Manifestação, ou seja, ainda tudo deverá ser manifestado... ainda tudo deverá ser realmente criado. Essa criação acontecerá entre o Pai, O Criativo, sempre doando sua linha contínua de vida infinita e iluminada e mente infinita e iluminada; e a Mãe, O Receptivo, sempre doando suas linhas vazadas, a multiplicidade da forma da Criação!

Sendo assim, tudo começará a partir da formação dessa multiplicidade da Criação, advindo de K’un, A Mãe, A Terra, O Receptivo, o Sublime Yin... até finalmente encontrar Ch’ien, o Pai, O Criativo, O Céu, o Sublime Yang.

Considerações sobre K’un, A Terra

K’un, A Terra, O Vazio, é ela própria O Fio da Meada, que, através do Espaço, encontra-se com Ch’ien, O Céu, O Criativo, através do Tempo.

O fio da Urdidura - o Espaço - junto com o Tempo - a Trama - vai tecendo, assim, todo o Universo...

Sendo o Espaço finito e o Tempo infinito, ambos encontram-se em um breve momento de Luz e Não-Luz....e depois retornam.
"O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância do céu e da terra
é o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros"
Tao Te Ching, Capítulo 7

"O retorno é o movimento do Caminho
A humildade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência"
Tao Te Ching, Capítulo 40

Com o surgimento dos Filhos e Filhas do Céu e da Terra, a Trama vai sendo tecida pela Urdidura, ponto após ponto, passo a passo, Hexagrama a Hexagrama, numa longa jornada a Caminho do Céu.
"O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota"
Tao Te Ching, Capítulo 4




Encontros de K’un, A Terra, com seus Filhos e com Ch’ien, O Céu


Em seu primeiro encontro, K’un, A Terra , A Mãe, O Vazio, O Receptivo, A Não-Luz, O Abranger, O Devocional, A Perseverança, O Obscuro, recebe a Si Mesma, formando o Hexagrama K’un, O Receptivo

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___ ___ Trigrama do Céu em K'un, A Terra
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___ ___ Trigrama da Terra em K'un, A Terra

Quando K'un, A Terra, inicia seu Caminho do Céu recebendo a si mesma, também faz desenrolar o Fio da Meada, ou seja, a partir deste momento, o Vazio dá berço à Criação e todos os Hexagramas - os 62 restantes perfazendo a totalidade dos encontros entre Mãe, Pai e Filhos - até a realização final que é o encontro do Ch'ien, O Céu, O Criativo, consigo mesmo, finalizando, dessa forma, O Caminho do Céu e dando início ao retorno ou Caminho da Terra.

............................................

Em seu segundo encontro, K'un, A Terra, A Mãe, O Vazio, recebe Ken, A Montanha, A Quietude, O Mestre, O Filho mais Jovem, e ambos formam o Hexagrama Po, Desintegração.


............... (a continuidade deste Capítulo encontra-se no Primeiro Volume de O Fio da Meada).........

Capítulo 10 - O Oráculo

O FIO DA MEADA
O I Ching do Caminho do Céu
1997

Janine Milward


Capítulo X


O Oráculo

O Julgamento
A Imagem
Textos do Julgamento e da Imagem e das Linhas 
Hexagrama Original e Hexagrama Complementar
Como Obter um Hexagrama


Através da sincronicidade da relação céu e terra, os arquétipos que imajam essa relação surgem para traduzir, em linguagem, o inconsciente para o consciente.

"O inconsciente é estruturado como uma linguagem", nos diz Jacques Lacan, filósofo e psicanalista, discípulo de Sigmund Freud, o formalizador da psicanálise onde o consciente, e fundamentalmente o inconsciente, são estruturados e revelados.

Vimos também que O I Ching é o Mestre e nós somos o Discípulo que procura seu Mestre, seu inconsciente, para que suas verdades sejam reveladas ao nosso consciente.

Então, sempre que consultamos o I Ching como um oráculo, estamos nos dirigindo ao mestre que existe dentro de cada um de nós. Dessa forma, o momento da consulta ao nosso mestre interior, ao I Ching, deve ser um momento de reverência, de plena paz e interiorização. É certamente um momento de receptividade às revelações da mestria de nosso inconsciente e ao mesmo tempo de abertura à essas revelações bem como de ampliação da nossa consciência no sentido de compreender, apreender e analisar mais profundamente aquilo que nos está sendo revelado.

É importante sabermos que o I Ching nunca erra.... possivelmente erramos nós – ou o subestimamos ou não o compreendemos - ao interpretá-lo.... O inconsciente sempre sabe.... O consciente tem que aprender a aprender a saber...


Imagens

Antes de mais nada, é preciso que olhemos as imagens reveladas pelos hexagramas tanto com os nosso olhos da razão quanto com os da emoção e sentimento: isso nos trará a percepção mais interiorizada para desenvolver nossos insights, nossas compreensões que nos perpassam como um raio de luz....

Muitas das vezes, nossa resposta vem já transparecida através da própria imagem do hexagrama, seja da superposição das duas imagens reveladas pelos Trigramas da Terra e do Céu, seja pelo próprio desenho que essas linhas formam.... e nem sempre essas revelações estão textualizadas no hexagrama!

Certa vez uma amiga minha me pediu para ver se O I Ching lhe dizia se estava grávida ou não.... Eu estava em uma cidade na serra e ela à beira mar e portanto, realizei a consulta longe da consultante... Obtive o Hexagrama Chung Fu, Verdade Interior; Tui, O Lago, recebendo a visita de Sun, O Vento. Neste hexagrama, podemos ver duas linhas Yang e contínuas nas duas extremidades e duas linhas Yin e vazadas no interior: a idéia de que algo está contido, velado, ainda não revelado


......................... (a continuidade deste Capítulo encontra-se no original Primeiro Volume de O Fio da Meada).........

Capítulo 9 - Mutação e Não-Mutação

O FIO DA MEADA
O I Ching do Caminho do Céu
1997


Janine Milward

Capítulo IX



I, Mutação e Não-Mutação

A Simultaneidade
Sincronicidade e Arquétipo
Consciente e Inconsciente
Mestre e Discípulo


Tudo sempre está em constante movimento na natureza. Essa é a grande alquimia do universo: a eterna mutação. Na verdade, a única possível não-mutação é a lei da sempre mutação.... Assim é no nosso Universo e no Multiverso...

Nesse nosso Universo em que vivemos e conhecemos, o Mundo da Manifestação nasce de uma pequena semente contendo a totalidade em potencial de energia que, ao atingir sua plenitude de concentração, explode formando o Espaço e o Tempo.

O começo de um universo – o momento que dá início ao espaço e ao tempo – é o disparador do relógio de um grande ciclo da natureza. Somos parte integrante desse ciclo, desse universo.

A partir do Big Bang, toda a matéria ou gases ejetados no espaço a-vir-a-ser foram se condensando formando estrelas e mais estrelas.... Essas estrelas nasceram, viveram e morreram, explodindo, expelindo mais e mais matéria ou gases ejetados no espaço já existente e no espaço a-vir-a-ser. Essa é a fornalha alquímica do universo: estrelas nascendo, vivendo, morrendo.... Criando mais outras estrelas, criando novos elementos químicos a cada tempo de vida e a cada tempo de morte...

Somos parte integrante desse universo de vida e morte de estrelas: somos feitos todos, tudo na natureza, de poeira de estrelas....

Sendo poeira de estrelas, pertencemos à totalidade do nosso universo manifestado desde de sua explosão inicial e ainda antes, quando era o universo ainda uma energia condensada e concentrada em uma pequena semente.... E ainda antes, quando tudo isso existia advindo do Mundo da Não-Manifestação – ou advindo do Mundo da Manifestação, quem sabe, de algum Buraco Negro finalizador de algum universo anterior – desde que somos parte de um multiverso....

Sendo poeira de estrelas, pertencemos a tudo, tudo, tudo, tanto no Mundo da Manifestação quanto no Mundo da Não-Manifestação.

Todo o universo cabe em nós. Assim sendo, somos bibliotecas vivas da história do universo – não apenas a história relativa ao tempo e ao espaço, mas certamente antes de tudo, antes de nada. Antes. Durante. Depois. Antes...

Há algo completamente entorpecido
Anterior à criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente e inalterável
Move-se em círculo e não se exaure
"Há algo completamente entorpecido
Anterior à criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente e inalterável
Move-se em círculo e não se exaure
Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho
Esforçando-me por denominá-lo, chamo-o de Grande
Grande significa Ir
Ir significa Distante
Distante significa Retornar
O Caminho é grande
O céu é grande
A terra é grande
O rei é grande
Dentro do universo há quatro grandes
E o rei é um deles
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza (1)

Denomina-se "rei" a consciência do universo que está por toda parte: nós somos parte dessa consciência; é essa consciência que devemos nos "conscientizar". Também o "rei" significa o Rei Celeste, aquele que no Mundo da Manifestação, através da expansão da energia de sua consciência real, cria todo o universo, sendo portanto, o próprio universo e anterior a ele também – desde que o Rei Celeste imaja a última etapa para se alcançar o Mundo da Não-Manifestação.

Quando o homem se torna Homem Sagrado, ele realiza dentro si a fusão de sua consciência com a consciência do universo- a consciência real - daí, ele se torna o "rei". Ao tornar-se "rei", ou seja, obtendo a consciência do universo e com ela se fundindo, o homem faz parte do equilíbrio de vida e mutação de vida do universo.... por isso é que, inicialmente, o homem se orienta pela terra, que se orienta pelo céu, que se orienta pelo Tao, que se orienta por sua própria natureza....

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................ (a continuidade deste Capítulo encontra-se no original Primeiro Volume de O Fio da Meada)............

Capítulo 8 - Linhas e Entrelinhas

O FIO DA MEADA
O I Ching do Caminho do Céu
1997

Janine Milward


Capítulo VIII



Linhas e Entrelinhas

Uma torre de nove andares
levanta-se de um acúmulo de terra (1)

Descrição de cada Linha e sua Posição no Hexagrama
Atributos do Trigrama doador da Linha
Hexagrama advindo da Linha Doada
Correspondência e Inter-relacionamento com as outras Linhas

A partir do Hexagrama Chi Chi, Após a Conclusão, que possui a composição ideal de linhas, podemos, então, descrever cada linha, em suas linhas e entrelinhas...

Primeira Linha
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Chi Chi, Após a Conclusão

A primeira linha do hexagrama, a linha Yang da Terra, por pertencer ao rés do chão da Terra, o Trigrama da Terra ou Interior, é idealmente Yang ao nos revelar a Luz de Ch’ien, O Criativo, penetrando a Terra, K’un, A Não-Luz, e fecundando-a, trazendo a renovação da vida.

A linha inicial provém do mergulho da sexta linha após ter completado as seis etapas de algum hexagrama anterior. Assim, a primeira linha é a sétima etapa de um ciclo que nos revela o Retorno da Luz, assim como acontece no Hexagrama Fu, O Retorno, O Ponto de Transição. Neste Hexagrama, a primeira linha é a governante.
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Fu, o Retorno da Luz

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência (2)

Fu, O Retorno da Luz, é a imagem subjetiva de Chen, O Trovão, O Filho mais Velho, O Incitar, A Primavera, O Começo, O Insight, O Inesperado – aquele que empresta sua linha Yang da Terra para compor o Hexagrama de linhas idealmente perfeitas.

A Terra, K’un, impregnada pela Luz do Criativo, Ch’ien, o Céu, tece o universo, a partir de seu Vazio, de sua Não-Luz.

Dessa maneira, a primeira linha revela esse sentimento de algo que está para acontecer, algo que está começando, algo que se encontra ainda e apenas em seus primórdios....

A primeira linha é a base da construção do hexagrama a vir-a-ser, é seu alicerce – sendo por isso nomeada de Linha da Terra do Trigrama da Terra. É a estrutura do hexagrama. Dessa forma, é idealmente Yang.

Dentro do hexagrama, existe a correspondência e inter-relação entre as linhas. A primeira linha se corresponde sempre com a terceira linha, já no Trigrama do Céu. Essa correspondência se dá através de alguns fatores:

- A primeira linha é a linha da Terra do Trigrama da Terra. A terceira linha é a linha da Terra do Trigrama do Céu. Então, ambas dão início a uma qualidade de trigrama dentro do hexagrama.

- A primeira linha é idealmente Yang e encontra na terceira linha idealmente Yin o seu oposto complementar.

Também a terceira linha se inter-relaciona com a sexta linha – por serem ambas pertencentes às fronteiras, aos limites do hexagrama, sendo que a primeira linha sempre fala dos primórdios do hexagrama enquanto a sexta linha sempre fala do término do mesmo.

De qualquer maneira, a primeira e a sexta linhas estarão sempre interligadas porque uma é fruto da outra, ou seja, quando um hexagrama termina, a sexta linha aparece novamente como primeira linha de um novo hexagrama – é a eterna mutação - I, mutação.

O principal atributo da primeira linha é representar o Tesouro do Espírito do Trigrama da Terra para todo o hexagrama. O Tesouro do Espírito do Trigrama da Terra nos revela todo o conhecimento e sabedoria que movem o Homem (a segunda linha) alcançar o Princípio Primordial, O Tao do Trigrama da Terra, o ápice da evolução na encarnação – porém ainda limitada pela Terra e no entanto, já preparando o Homem para galgar o Trigrama do Céu.





Segunda Linha
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Chi Chi, Após a Conclusão


......................... (a continuidade deste Capítulo encontra-se no Primeiro Volume de O Fio da Meada)...........

O Bambú

O Bambú
O bambú verga... dificilmente quebra: assim devemos nos conduzir